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22/09/2012 - Gasto do Brasil com defesa é 'tão baixo', diz chefe de missões da ONU

Gasto do Brasil com defesa é 'tão baixo', diz chefe de missões da ONUSubsecretário-geral de Operações de Paz falou com exclusividade ao G1. Ele pediu que tropa brasileira retirada do Haiti seja enviada a outros países.

edmond mulet (Foto: Konrad Adenauer/divulgação)


O atual subsecretário-geral de Operações de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU), Edmond Mulet, disse, em entrevista exclusiva ao G1 , que apesar dos soldados brasileiros serem muito bem treinados, possuem equipamentos antigos, "que não foram renovados nos últimos 30 anos".

Mulet também criticou o gasto anual de 1,5% do PIB com defesa, classificando-o como "tão baixo" em comparação com outros países. Em agosto, o G1 mostrou a situação de sucateamento do Exército e que o país possui munição para apenas uma hora de guerra.
"Eu acho que as soldados brasileiros são muito bem treinados e muito bem formados, motivados e extremamente profissionais. O que é verdade, como eu ouvi, é que o equipamento e o material no Exército brasileiro não têm sido renovados há pelo menos 30 anos, por razões diferentes, econômicas, etc., e que agora, eles têm intenção de se adaptar às novas tecnologias", afirmou.
Mulet falou com o G1 durante a Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana, organizada pela Fundação Konrad Adenauer, no Rio de Janeiro, na quarta-feira (19).
"Quando se vê que o Brasil gasta apenas 1,5% do PIB em defesa, em comparação com os outros países, isso é tão baixo", observou o subsecretário. Nos últimos dez anos, a porcentagem do PIB brasileiro investido no setor ficou em 1,5%, conforme números do Ministério da Defesa. Em 2011, o valor investido pelo governo na área foi de R$ 61,787 bilhões.

Mulet conhece muito bem a ação do Exército brasileiro no terreno depois de liderar por mais de dois anos a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah). Após o terremoto ocorrido em 2010, que deixou mais de 300 mil mortos no país caribenho, entre eles o representante da ONU Hedi Annabi, o diplomata foi enviado pelo secretário-geral Ban Ki Moon de volta ao Haiti, para tentar colocar "ordem na casa".

Questionado se o Brasil precisa ter Forças Armadas bem equipadas e preparadas para conseguir ser membro permanente do Conselho Segurança, o diplomata disse entender que "isso é uma decisão interna do Brasil" e que "é uma discussão mais política do que militar".
"Eles [o governo e as Forças Armadas] têm que saber o que precisam. Mas eu acho que todo país precisa estar apto a ter um nível bem efetivo de suas próprias tropas", afirmou.

"Eu acho que é uma aspiração legítima do Brasil estar adaptado para os novos desafios da defesa global e você precisa de ferramentas e dos instrumentos necessários para ser mais efetivo do que é hoje", acrescentou.
Terremoto de 2010 fez do Haiti o país com mais mortos em desastres nos últimos 20 anos; mais de 230 mil pessoas morreram no país nesse período
Tropas brasileiras em outras missões 
Em um encontro reservado com o ministro Celso Amorim na última segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, Mulet disse ter exposto que gostaria que o Brasil mantivesse até o segundo semestre de 2013 os dois batalhões que possui no Haiti, que totalizam 1.910 homens. No entanto, já há acordo fechado com a ONU para a retirada do contingente.
"O Brasil decidiu retirar o segundo batalhão (com 850 soldados), que enviou após o terremoto. E isso ocorre de forma sincronizada com a decisão da ONU de reduzir as tropas, porque a situação melhorou e as capacidades da polícia melhoraram", disse.
"Esperamos ter eleições no próximo ano e a discussão que estava tendo com o Amorim era sobre a necessidade de se manter este batalhão até depois das eleições, porque a ONU é importante para logística e segurança do pleito", lembra Mulet. "Mas a retirada deste segundo batalhão já foi acordada entre o governo brasileiro e a ONU, nós devíamos ter discutido antes."

Com a redução do efetivo no Haiti, a ONU pretendia, então, que o Brasil mandasse tropas para outra missão. O G1 apurou que uma das hipóteses cogitadas seria o apoio com soldados no Líbano, onde a Marinha já comanda uma força-tarefa marítima a serviço da ONU. Mulet, porém, não confirmou, afirmando que não se referia a uma missão específica.

"Eu disse para o Amorim que, já que o Brasil vai sair do Haiti, talvez podia considerar usar este grupo em outra parte do mundo. Não sugeri nenhum país. Mas a qualidade e o alto nível dos soldados brasileiros é algo que a ONU gostaria ter mais presente. Nós gostaríamos muito de receber a participação deles em outra parte do mundo", afirmou.

O subchefe de missões de paz da ONU disse ter ouvido um "não" de Amorim como resposta. "O ministro disse que isso é algo que, se a ocasião aparecer, vão avaliar as circunstâncias, mas que, neste momento, eles não têm intenção de dispor de tropas em outra parte do mundo", contou Mulet.
O Ministério da Defesa confirmou que, em conversa com Amorim, Mulet pediu que o Brasil participasse de outras missões de paz, apontando alguns países de interesse, como Somália e Líbano. Contudo, o ministro afirmou que o Brasil participa de missões de paz nas quais "possa fazer a diferença", como ocorreu anteriormente com Timor Leste, Angola e Haiti. A assessoria de imprensa da Defesa diz que Amorim não conversou com Mulet sobre o orçamento do ministério e a situação das tropas
Militar brasileiro no acampamento Jean Marie Vincent, no Haiti, em imagem de novembro
Planos para a Síria 
A ONU trabalha com ao menos 22 "cenários diferentes" em que seria possível empregar uma missão de paz em um futuro próximo.
Segundo Mulet, um dos cenários aponta para a Síria, onde a guerra civil entre o governo e rebeldes já deixou mais de 19 mil mortos e milhares de deslocados e refugiados . O diplomata ponderou, porém, que, nesse caso, não há cessar-fogo, não há entendimento político e nem paz para se manter. "Uma missão de paz não é uma ferramenta que pode ser usada em qualquer ocasião." 

"Nós não sabemos o que vai acontecer [na Síria], nem quando isso vai acontecer ou como vão evoluir as coisas no terreno. Mas temos que estar preparados para responder quando o Conselho de Segurança pedir uma operação lá, seja missão de paz, de construção do Estado, de desenvolvimento do país ou missão política. Nós temos que estar preparados para responder a qualquer coisa e estamos trabalhando com diferentes planos."  g1/militaresbrasil

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