23/03/2013 - A vingança do soldado

Renato Ferraz - 

Em março de 1999, este repórter teve o privilégio de visitar o Iraque com o saudoso fotógrafo José Varella. A ideia do Correio Braziliense era mostrar como a população de lá vivia sob duas opressões: a política, de Saddam Hussein; e a internacional e desumana, traduzida num estúpido embargo, só amenizado por um programa da ONU, que trocava petróleo por alimentos. Duas fotos do Zé ainda estão registradas na minha memória: o instante da morte de um bebê em um hospital infantil, por falta de remédios, e um detalhe num desfile militar em Trikit, cidade natal do ditador, em que as botas do soldado aparecem rasgadas (instagram.com/cbfotografia). Ambas mostram o quanto o Iraque era “poderoso”.
Em março de 2003, os EUA e a Grã-Bretanha destruíram e ocuparam o país rapidamente a pretexto de eliminar as armas químicas que o país possuiria. Em 2004, Charles Duelfer, principal inspetor de armas americano no Iraque, contou ao senadores norte-americanos, em relatório, que não havia armas de destruição em massa — e sequer existiam sinas de bombas ou outros artefatos nucleares. No mesmo ano, o jovem Tomas Young — que se alistou no exército americano dois dias depois da derrubada das duas torres do World Trade Center, em Nova York — foi ferido no Iraque e nunca mais pôde andar.
Esta semana, 10 anos depois, ele anunciou que vai se suicidar, deixando de tomar remédios essenciais. É uma “vingança”, diz, contra os então presidente e vice George Bush e Dick Cheney, respectivamente. Este último, por sinal, era ligado a duas empresas americanas — a Halliburton e a Blacwater, ambas das áreas de segurança e, claro, de petróleo (produto farto no Iraque). O jornalista John Simpson, que cobriu a guerra pela TV britânica BBC, lembra: “Elas lucraram muito, mas muito mesmo, com a invasão”.
E então, o que pensar hoje de tudo? Nem o povo norte-americano, espertamente envolvido por uma máquina de propaganda fenomenal, entende; a maioria crê, agora, que foi um erro. À época, sete em cada 10 deles achavam que Saddam tinha envolvimento nos atentados de 11 de setembro. Aqui no Brasil, terra de poucos educados, muitos cultos “caíram” — de má-fé ou ingenuidade política — na esparrela. Eles não sabem que, na história da humanidade, foram raríssimas as guerras justas e imprescindíveis. A não ser para essa turma ávida por guerra e grana.

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