02/05/2015 - 70 anos depois, passos da Guerra Itália
70 anos depois, brasileiros refazem passos da FEB na Itália
Um grupo de aproximadamente 250 pessoas percorreu entre os
dias 21 e 27 de abril as cidades italianas que serviram de palco para
combates envolvendo a Força Expedicionária Brasileira (FEB), regimento
enviado pelo país para lutar ao lado das tropas aliadas na Segunda
Guerra Mundial. O roteiro fazia parte das celebrações pelos 70 anos da
libertação da Itália das mãos do nazi-fascismo, comemorados no último
sábado (25).
Chamada “Coluna da Vitória 2015″, a viagem foi organizada
pela Associação Brasileira de Preservadores de Viaturas Militares
(Abpvm) e contou com a presença de filhos, netos e bisnetos de soldados
da FEB, além de muitos simples apaixonados pela história nacional, todos
entre 23 e 70 anos. O percurso começou em Camaiore, na Toscana, de onde
o grupo partiu em jeeps, dodges e ônibus rumo ao norte da Itália.
“A tarefa da FEB no processo de libertação da Itália foi
muito complicada, pois tratava-se de uma tropa mal treinada, mal
equipada e com muitos problemas de adaptação ao rigor daquele inverno
italiano. Apesar disso, soube lutar bravamente contra o Exército melhor
preparado do mundo na época e manter uma dignidade sem par, considerando
a população italiana e compartilhando os recursos que tinha,
principalmente comida e remédios”, diz Mario Pereira, que participou da
organização dessa nova expedição pela nação europeia.
Filho de um ex-sargento da FEB, ele é o responsável por
manter o Monumento Votivo Militar de Pistoia, construído no local que
abrigava o antigo cemitério de pracinhas que havia nessa cidade situada a
40 km de Florença. Na década de 1960, os restos mortais dos brasileiros
que morreram na guerra foram repatriados, e sobre seus antigos túmulos
foi levantado um memorial.
O pai de Mário era quem cuidava do cemitério e, mais
tarde, do monumento, passando a tarefa ao filho após sua morte. “Quando
ele faleceu, eu me senti incumbido de levar à frente a missão dele,
aquela missão em que eu o tinha visto empenhado a vida inteira, mesmo no
meio das dificuldades. Eu cresci à sombra desse monumento”, diz.
Como não poderia deixar de ser, Pistoia foi um dos locais
visitados pelos 250 brasileiros que, 70 anos depois, refizeram os passos
da FEB. O grupo também esteve em Massarosa, primeiro município
libertado pela força expedicionária, Staffoli, lar da única construção
deixada pelos soldados brasileiros em solo italiano (uma gruta em
homenagem à Nossa Senhora de Lourdes), e no célebre Monte Castelo,
montanha da Emília-Romana que foi palco da mais conhecida batalha
envolvendo os pracinhas.
Importante baluarte alemão, o morro situado nos arredores
de Bolonha foi tomado em 21 de fevereiro de 1945 após quatro tentativas
de incursão. Mas os viajantes também passaram por muitos vilarejos menos
conhecidos e que até hoje lembram a participação brasileira em sua
libertação por meio de placas ou monumentos. Em algumas etapas,
principalmente nas solenidades mais importantes, participaram cinco
veteranos: Antonio de Pádua Inham, José Marino, Anselmo Alves, Alberto
Arioli e João Batista Moreira. O embaixador do Brasil na Itália, Ricardo
Neiva Tavares, também esteve presente em alguns eventos.
“Em todos os monumentos por onde passamos, além daqueles
inaugurados neste ano, foi colocada uma placa alusiva aos 70 anos do fim
da guerra. Ao longo do roteiro da FEB na Itália, existem hoje 45
monumentos ou placas, dos quais apenas dois foram construídos com
recursos brasileiros. Acho que isso dá um destaque muito grande ao
soldado, ao pracinha e ao povo brasileiro”, diz Mário Pereira.
Papel secundário
Ainda que várias aldeias e pequenas cidades tenham os
membros da força expedicionária como heróis, a participação do maior
país da América Latina na libertação italiana foi, segundo
historiadores, apenas marginal, embora tenha a sua representatividade,
principalmente para o Exército nacional.
“Foi um papel secundário, quase simbólico, uma vez que
tratava-se de apenas uma das 23 divisões de países aliados que lutavam
naquele front. Mas não deixou de ser uma contribuição importante, face à
crise desesperada de falta de efetivos com que se debatia a frente
italiana no segundo semestre de 1944″, relata Dennison de Oliveira,
professor do departamento de história da Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
Ao todo, foram enviados pouco mais de 25,3 mil militares
para a Itália, dos quais 10,2 mil como retaguarda. Os soldados chegaram
na Europa no segundo semestre de 1944 em cinco viagens de
aproximadamente 5 mil pessoas cada. Encerrada em maio de 1945, a
campanha teve em torno de 450 mortos e cerca de 2 mil feridos em
combate.
“Mesmo na Itália, que naquele momento não era o front mais
importante da guerra, a FEB, tendo só uma divisão de infantaria, não
foi decisiva. Ela contribuiu para um esforço conjunto aliado”, afirma
Vágner Camilo Alves, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da
Universidade Federal Fluminense (UFF). Para ele, a FEB foi, acima de
tudo, muito importante para o Brasil e para as Forças Armadas nacionais.
“Foi a grande experiência do Exército brasileiro em um conflito
moderno.”
Porém se na letra fria da história o papel do país na
libertação italiana se resume a uma pequena contribuição, nas lembranças
dos que tiveram suas vidas afetadas pela força expedicionária o
heroísmo estará sempre presente.
“Os brasileiros foram, e são ainda hoje, considerados
verdadeiros libertadores da Segunda Guerra Mundial. O Exército
brasileiro é indicado aqui na Itália como um dos melhores entre os
aliados. Seu exemplo não pode e nem deve ser esquecido, e o Brasil
deveria valorizar mais essa grande lição de dignidade e amor que a FEB
deu ao mundo inteiro”, declara Mario Pereira, o ítalo-brasileiro que
dedica sua vida a manter vivo o legado da força expedicionária e de seu
pai.
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